O mundo foi evoluindo no decorrer dos séculos por meio de diversos processos de criações e invenções. Tudo aquilo que nos rodeia atualmente, do objeto mais simples ao mais complexo, teve uma mente pensante por trás. Dessa forma, existe uma data nacional que celebra o dia de pessoas que, dedicadas em transformar e em criar, contribuíram para a evolução do mundo e inovação das mais variadas tecnologias. É o Dia do Inventor, comemorado nesta quinta-feira, 4.
No mundo todo, muitos nomes são conhecidos pelas suas diversas invenções. No Ceará, algumas pessoas também se dedicaram a mudar, de alguma forma, a vida das pessoas por meio de novas criações que não só proporcionaram mudanças e melhorias, mas representaram reconhecimento para o povo cearense e avanço para o País.
Uma simples e mirabolante invenção feita pelo cearense Adriano Rocha, 51, por exemplo, foi pensada para facilitar a vida das pessoas ao consumirem caranguejo. Em uma ida à praia, em 2016, o empreendedor foi surpreendido por uma mulher que, sentada em uma mesa próxima a dele, o atingiu sem querer com um pedaço da carcaça de um caranguejo enquanto tentava quebrá-lo .
“Infelizmente, a maneira que se come caranguejo é muito arcaica, quebrando com pedaço de cano, de madeira e assim vai. Não tem uma coisa que realmente dê conforto. Então, fiquei conversando muito com o esposo dela sobre isso. A partir daí, eu saí e fui para uma serraria fazer um protótipo de madeira, com tudo o que eu tinha na minha cabeça naquele momento”, explica Adriano.
A partir desse protótipo, foram feitos testes durante cerca de oito meses, com várias adaptações, até que o produto virasse o "Kreke Patinha". O principal objetivo do produto é quebrar, de forma mais prática, a carcaça do caranguejo quando este estiver sendo consumido. De 2017, ano que o utensílio entrou para o mercado, até aqui, ele já é vendido a nível nacional.
Kreke Patinha, produto inventado pelo cearense Adriano Rocha para auxiliar no consumo de caraguejo no momento de quebrar a carcaça do crustáceo (Foto: Arquivo pessoal)
“Ele foi criado pela necessidade de dar um conforto à pessoa que está consumindo o caranguejo, que é um crustáceo que tem pouca carne para ser degustada. Então, aquela pouca carne era desperdiçada com o sistema de bate-bate para quebrar a casca. Quando você usa o Kreke Patinha, por mais que você não saiba usar no início, não há nenhum desperdício de carne na hora que você vai degustar”, pontua o inventor.
Durante a pandemia da Covid-19, o produto foi bastante consumido por pessoas que, na segurança de suas casas nos períodos de lockdown, não tinham algo que pudesse ser utilizado para quebrar a carcaça do crustáceo de forma eficaz. O utensílio era comprado por meio do site ou Instagram da marca, sendo enviado à residência das pessoas, facilitando no manuseio e consumo do alimento.
Outra criação cearense surgiu para substituir o trator utilizado pela comunidade do assentamento Vida Nova Transval por uma moto. A máquina agrícola foi pensada por Antônio Tiago Souza dos Santos, 30, um dos filhos de uma família de oito irmãos, moradora de Canindé. A invenção é mais econômica e agride menos o solo.
Em 2015, a motocultivadora foi construída após Tiago, junto com o irmão Francisco Cleiton dos Santos, 36, e o pai, Aloísio Germano dos Santos, 61, comprar uma moto por cerca de R$ 1.500. Com a experiência em mecânica, adquirida pelo pai, os filhos montaram o equipamento manualmente, mas o plano só foi testado um ano depois, em 2016, devido à seca.
A máquina lembra um triciclo por possuir dois grandes pneus acoplados em sua parte traseira. O diferencial da invenção se encontra na grade de ferragens afiadas, que servem para preparar e arejar a terra, garantindo maior absorção de água. Um trabalho que o trator gastaria oito litros de diesel, por hectare, é feito com apenas dois litros de gasolina pela máquina inventada.
Motocultivadora, máquina inventada por Tiago Souza, sendo mais econômica que o trator antes utilizado e agridindo menos o solo (Foto: Arquivo pessoal)
Atualmente, a invenção continua sendo utilizada tanto pela família como por pessoas da comunidade. "A gente aperfeiçoou uma pouco mais a motocultivadora e, ao longo do tempo, a gente vem produzindo cada vez mais, aumentando as áreas de plantio. É um ótimo equipamento para agricultura familiar, meu pai e os vizinhos estão muito satisfeitos, porque ela dá muitos resultados", explica o inventor da "engenhoca".
Ao longo dos anos, por conta da economia em combustível e com outros gastos que a máquina proporcionou, a família conseguiu adquirir um novo trator, aumentando o maquinário para a execução do trabalho agrícola. Outras pessoas da comunidade demonstraram interesse em ter uma motocultivadora também, mas o preço do material aumentou consideravelmente. Assim, o equipamento sempre foi emprestado quando alguém precisava.
Com a alta nos combustíveis atualmente, a utilização da "engenhoca" continua trazendo mais economia para a família. "Ainda compensa a gente possuir um equipamento desse, porque ainda assim é barato e dá uma produção razoávael. Em uma hora, ela consome um litro de combustível. Para fazer um hectare de terra, sendo 10.000 m², ela consome dois litros, dando em torno de R$ 14 por hora hoje em dia", esclarece Tiago.
Outras invenções impactantes de cearenses
PS Cards
Criado pela enfermeira cearense Cláudia Araripe, o produto consiste em um jogo de cartas colaborativo que utiliza técnicas de gamificação para prevenir erros durante a assistência hospitalar. A ferramenta provoca reflexões e incentiva a criatividade dos jogadores na solução de problemas que envolvem questões sobre processos cotidianos do trabalho.
O jogo tem duas versões, onde uma aborda as metas internacionais de segurança do paciente, enquanto a outra trata das infecções adquiridas durante a internação. A invenção está sendo lançada durante uma jornada virtual que tem acontecido entre os dias 3 e 5 de novembro, das 19h30min às 20h30min, com transmissão ao vivo pelo YouTube no canal "Eu Gestor da Saúde".
Placa de substituição de jogadores
O letreiro luminoso que os árbitros utilizam no jogo de futebol para fazer a troca de atletas de dentro para fora do campo foi inventado no Ceará. Foi em 1996 que Carlos Eduardo Lamboglia criou a patente da placa. A estreia aconteceu em 1998 na Copa Mundial na França, sendo utilizada até hoje nos jogos de futebol, auxiliando o trabalho de jogadores e árbitros.
Fotossensor
O equipamento que atua no monitoramento das ruas das principais cidades do País foi inventado por uma empresa cearense. A Fotosensores Tecnologia nasceu no Parque de Desenvolvimento Tecnológico (Padetec) da Universidade Federal do Ceará (UFC), em 1993. O objetivo da invenção é deixar o trânsito mais seguro, de forma a melhorar a mobilidade de pessoas e circulação de automóveis.
Biodiesel
A alternativa mais sustentável em combustíveis derivados do petróleo foi desenvolvida pelo cearense Expedito Parente, engenheiro químico que descobriu o produto utilizando óleo de algodão. Falecendo em 2011, com 70 anos, o cientista recebeu reconhecimento internacional de órgãos como a Organização das Nações Unidas e de empresas como a Boeing. Atualmente, o biodiesel compõe 8% do diesel comercializado no Brasil, e o país é um dos principais produtores do combustível.
Água de coco em pó
Os pesquisadores Cristiane Clemente de Melo, João Monteiro Gondim e José Ferreira Nunes foram reconhecidos mundialmente pela criação da água de coco em pó. Fazendo parte da Universidade Estadual do Ceará (Uece), o trio estuda o produto desde a década de 1980, o qual é utilizado amplamente em diversos campos da ciência. Alguns dos principais usos se deram na inseminação artificial, em diluentes para vacinas de aves e na conservação de órgãos que serão transplantados.
Colete para motociclista
O cearense Vildemon resolveu inventar o colete após sofrer um acidente de moto, criando o produto para proteger o tórax e o pescoço dos motociclistas. Para anunciar a invenção, ele participou do programa "Domingão do Faustão", no quadro "Se Vira Nos 30", para anunciar sua invenção, em 2008. Apesar da dificuldade de financiamento, o colete ganhou repercussão nacional, e Videlmon conseguiu vender em larga escala para algumas prefeituras. O empreendedor preside a ONG Findes, que trabalha com a prevenção de acidentes de motos e a educação aos condutores.
Pele de tilápia na medicina
A pele de tilápia foi utilizada de forma pioneira no Ceará, tanto para a reconstrução vaginal como para o tratamento de tecidos queimados, tendo como responsáveis pelos estudos os médicos Edmar Maciel e Leonardo Bezerra.